1979-10-15
RIBEIRO, João Ubaldo, “Fábula contra a burrice e a opressão — Uma sátira doce e amarga”, Leia Livros, ano II, no 18, 15 out. a 14 nov. 1979 (resenha sobre Farda fardão camisola de dormir).
JUR: “Mestre Jorge Amado, 50 anos de militância, mais de vinte livros nas costas, milhões de volumes vendidos em todo o mundo, podia permitir-se escrever um romance simplesmente por diversão. (...) ... Jorge Amado tem sido visto, notadamente por críticos de direita, como Wilson Martins, e por todo o reacionarismo instalado num sistema educacional voltado para a preservação das elites econômicas (e seus jograis intelectuais) como uma espécie de estrangeiro. Disse o crítico Renato Pompeu, em frase muito feliz (Veja, no 576, p. 92), que ‘tais intelectuais costumam comportar-se diante da obra de Jorge Amado, como o europeu que pela primeira vez ouve uma batucada’. Simplesmente porque — simplificando um pouco as coisas, é claro — tanto se ‘internacionalizaram’ (ou seja, se entregaram, em todas as frentes) os nossos maiores centros urbanos e culturais, que a parte da cultura brasileira que, por causa do atraso e isolamento, se preservou, passou a ser vista como turística”.
“João Ubaldo depõe sobre Jorge Amado”: “Lembro duns versos que ouvi, num dia em que estávamos comentando o artigo de um jornalista cujo nome esqueço, artigo este que falava em como os baianos eram insuportáveis e em como Jorge não escrevia bem. Um homem que vendia versos, como até hoje se vende na Bahia, mercadoria fresca e individualizada, cantou:
‘Como pode Jorge Amado escrever mal,
se ele tem molejo natural?’".