TEXTO SEM DATA
RIBEIRO: João Ubaldo, “O analfabetismo erudito”, Enfim, texto sem data, p. 20-21.
JUR: “Esses caras, disse eu a Glauber [Rocha], são todos eruditos, eles são uns caras ótimos. Mas eles não sabem ler o que existe aqui, eles apenas comparam, porque a colonização tomou conta da cabeça da gente e vivemos medindo tudo com régua alheia e ninguém está sabendo de nada, nem mesmo a respeito da nossa língua, da nossa dança, de nada. Que coisa, disse eu, uns analfabetos eruditos”.
Glauber: "Você acha que existe crítica no Brasil?".
Eu: "Não. Acho a crítica ruim e omissa".
Glauber: "Todos ruins?".
Eu: "Uns substitutos da censura. Uns analfabetos eruditos".
Glauber: "Inclusive Wilson Martins?".
Eu (depois de leve pausa): "Inclusive Wilson Martins. (...) Eu nunca tive (...) livro ignorado pela crítica. E não tenho motivos desse tipo para esculhambar a crítica. Por incrível que pareça, tenho motivos honestos. (...) o que eu digo é o seguinte:
1. Que a maioria das pessoas literárias já leu Updike e nunca leu Antônio Vieira;
2. Que a maioria das pessoas literárias espera que o outro diga o que é bom;
3. Que a maioria das pessoas literárias só conhece literatura;
4. Que literatura não é literatura;
5. Que, para me esculhambar, os críticos teriam que saber mais é da nossa língua falada, das nossas ilusões, das nossas imagens, teriam que saber mais de nossa vida, em vez de saber o que se pensa sobre nós".
JUR: "A literatura é um produto cultural. Não é composta de objetos atemporais, ahistóricos, antisséticos”.