1981-09-01
RIBEIRO, João Ubaldo, “Explicação de Glauber Rocha”, JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, Portugal, Lisboa, ano 1, no 14, 1 a 14 set. 1981.
JUR: “Dizia – se não me engano e, provavelmente, me engano – Dilthey que as ciências humanas se distinguiriam das chamadas ciências físicas em que a tarefa da ciência física era explicar, enquanto a da ciência humana era compreender. (...) Dilthey (...) termina por contribuir um pouco para enxergarmos que se pode explicar profusamente algo, sem que se chegue jamais a compreendê-lo. Com meu amigo Glauber Rocha, acontece precisamente isto. Sempre houve uma fúria explicativa em torno dele, mas muito pouco dessa azáfama crítica chegou perto de compreendê-lo. (...)".
JUR: "... E Glauber não era um filósofo, embora fosse; nem era um caudilho, embora fosse; não era um messiânico, embora fosse; e não era um herói, embora fosse e sempre tivesse sido. (...)".
JUR: "... Glauber era um gênio. Digo isto com toda a responsabilidade de usar uma palavra hoje tão aviltada, digo isto sem deslumbramento. (...)".
JUR: "... A expressão que ele mais usava, quando descobria um pensamento ou obra de arte em que punha esperanças, era ‘corte epistemológico’. Foi dado o corte epistemológico, eles têm que ver! – berrava ele. (...)".
JUR: "... tornou-se irrotulável e, portanto, detestável. (...)".
JUR: "... me disse ele do hospital, ao telefone: (...) viva o nosso Império de Brasil, Portugal e Algarve, viva Dom Afonso Henriques, viva a língua portuguesa, viva nós, que sabemos e não nos curvamos (...), viva a Nossa Grande Merda! Viva, respondi eu, chorando um pouco. Viva Camões! – disse ele – e viva Eça! Cale a boca, Glauber – disse eu – você está precisando se poupar. Que é isso, eu não vou morrer, disse ele, nenhum de nós vai morrer. Viva nós, disse ele, chorando também, viva o povo, viva o nosso orgulho, ai meu Deus. (...)".
JUR: "... Tudo isso ele disse e eu dou fé e nunca mais, se Deus for servido, eu falo na morte dele”.