—
Onde é que você vai passar o ano-novo?
—
Ainda não pensei nisso.
—
Você não pensou? Como pode isso? Você não sabe onde vai passar o ano-novo,
justamente esse ano-novo?
—
O que é que tem esse ano-novo de especial?
—
É o ano-novo do ano dois mil, uai... A gente tem que descolar uma festa, alguma
coisa, assim, mais... chique, sofisticada, sei lá...
—
Todo ano você diz isso, e a gente sempre acaba de lado, esquecidas... Por que é
que você acha, querida, que esse ano vai ser diferente?
—
Ah, sei lá... Apenas sinto que dessa vez vai ser diferente.
—
Diferente, como?
—
Quer saber? Acho que nesse ano a gente vai explodir a boca do gargalo.
—
Você vive sentindo coisas... Acho que você sentiu a mesma coisa ano passado, e
você viu onde foi que nós passamos a meia-noite... Naquele lugar horroroso,
escuro, quente e cheirando a queijo e salaminho, e ainda por cima de pé a noite
toda, horrorosas...
—
A gente TEM QUE arranjar uma festa! Eu não quero ficar na mão de qualquer um no
meio da rua. Isso não!
—
Não se preocupe, tonta. Tenho uma surpresa para você.
—
Qual?
—
Temos, sim, uma festa...
—
Jura? Onde? Por que é que você não falou logo? Por que é que me deixou na
agonia? Por que é que ficou fazendo charminho? Sinto que sou capaz de
transpirar de emoção... Você acredita nisso?
—
De você eu espero tudo...
—
E de quem é a festa?
—
É de uma moça muito simpática e de um moço muito simpático.
—
Você não precisava me dar tantos detalhes assim...
—
Não me aporrinhe a paciência, senão você fica de fora...
—
Você não seria capaz de tamanha torpeza... Não se esqueça de que nós duas
nascemos praticamente no mesmo dia... Quem são eles?
—
O nome dela é Roberta e o dele é Luís Henrique. São muito simpáticos.
—
E você os conheceu onde?
—
Ela é a mãe da Lili.
—
Que Lili?
—
A Lili, ora! A namorada daquele menino engraçado, o Byron.
—
O lorde?
—
Não, o Sousa.
—
...
—
Ó, doce flor, inculta e bela, por que é que você quer saber de tantos detalhes
assim? Até parece que você vai ficar a noite toda conversando com eles. Nosso
lugar você bem sabe onde é...
—
Onde?
—
Na cozinha, sua tonta...
—
Isso depende muito do tipo de festa, você sabe. É festa chique, com garçons,
essas coisas? É casa ou apartamento? É grande ou pequena? Muita ou pouca gente?
Vai ter empadinha ou não vai ter empadinha? Vai ter...
—
Chega!! Pare de ser curiosa! Devia dar-se é por satisfeita de ter sido
convidada. Eles foram muito carinhosos em nos convidar. Não se esqueça disso.
—
É na Avenida Atlântica?
—
Claro!
—
Valha-me, Nossa Senhora da Boa Vista e do Bom Lugar à Janela, valha-me!! Isso é
bom demais! Eu não estou satisfeita; eu estou des-bun-dan-do de satisfação!!
Você acha que nós vamos encalhar mais uma vez, você acha? Ou dessa vez vai?
—
Estou achando que dessa vez vai. Nessa festa vai.
—
Logo você, que é tão pessimista... Por que o otimismo?
—
Porque o povo parece que vai beber bastante.
—
Será?
—
Oxalá!
—
Hum...
—
O que foi, maluca?
—
Maluca é você! Eu estou aqui pensando...
—
No quê?
—
Esta festa, assim, em pleno ano-novo do ano dois mil, assim, numa bela casa,
com gente simpática e bonita, belas bocas e belas mãos, na Avenida Atlântica,
com empada e tudo... Não está bom demais para ser verdade? E se acabar em
pizza?
—
Não vai acabar nada em pizza, tonta! Tenho até um convite para dois...
—
Um convite, é? Que chique!! E o que é que diz?
—
Diz que temos que confirmar nossa presença até o dia 3 de dezembro e levar...
—
Aha!! Eu sabia que tinha que levar alguma coisa! Estava bom demais para ser
verdade... O que é que tem que levar?
—
Fique calminha, não é nada demais... Diz aqui que tem que levar uma pessoa por
garrafa. É só.
—
Uma pessoa por garrafa? Hum... E você conhece alguém?
—
Tem aí um casal que parece disponível...
—
Prazo de validade?
—
Acho que estão dentro.
—
Franceses?
—
Não.
—
Hum... Quem são?
—
O Juva e a mulher dele.