29 de novembro de 2010

"Sargento Getúlio: o dragão Manjaléu" - "Apresentação do romance Sargento Getúlio" (Lisboa)


"Apresentação do romance Sargento Getúlio"
30 de Novembro de 2010, Livraria Buchholz, Lisboa.

"Sargento Getúlio: o dragão Manjaléu" (com a apresentação do filme de Hermano Penna).

24 de novembro de 2010

"O espelho de papel"

Para quem é que escrevo? Quem é que sou e onde é que estou enquanto escrevo? Penso num menino em mim que me lê enquanto escrevo? E esse menino sou eu? Como é que faço para o reconhecer ou saber que sou eu? Daqui, de onde acredito que o vejo, posso chegar a ele, ao que pensa e ao que gostaria de ler? Se esse menino sou eu, posso voltar a ser novamente esse menino no instante em que escrevo, ou a distância no tempo nos tornará sempre distantes? Se consigo vê-lo, vejo-o com que olhos? Os de hoje, a olhar para um menino que fui, ou os olhos de ontem, de modo a que esse menino consiga olhar para si próprio e assim escrever, (des)escrevendo-se a si mesmo?

Enquanto não conseguir responder a tudo isso, não escreverei. E só conseguirei responder a tudo isso se escrever.

19 de novembro de 2010

Narcisos

"in time of daffodils (who know
the goal of living is to grow)
forgetting why, remember how

in time of lilacs who proclaim
the aim of waking is to dream,
remember so (forgetting seem)

in time of roses (who amaze
our now and here with paradise
forgetting if, remember yes)

in time of allsweet things beyond
whatever mind may comprehend,
remember seek (forgetting find)

and in a mistery to be
(when time from time shall set us free)
forgetting me, remember me"

e. e. cummings

17 de novembro de 2010

Quadrinha de Santo António

SANTO ANTÓNIO DE PÁDUA
Juva Batella

Foi em Pádua que morreu.
Para nós é de Lisboa,
Porque em Lisboa nasceu.

Nasceu em 15 de Agosto.
Seu nome de pia é Fernando.
Morreu em 13 de Junho,
O nome de António levando.

Em 13 de Junho Lisboa
Uma outra pessoa abençoa.
Um outro Fernando nascia,
E uns versos à toa tecia.

Não curou nenhuma pessoa,
Não ganhou nenhuma coroa.
Mas fez das tripas coração.
A poesia na palma da mão.

Foi enfim cancioneiro
O Fernando António Pessoa;
E padroeiro o primeiro:
SANTO ANTÓNIO DE LISBOA.


11 de novembro de 2010

"Os doidos de razão"

"Não fazia portanto a mínima ideia da razão porque alguém me estava a telefonar às três e meia ou quatro horas da manhã.

“Professor Feynman?”

“Sim. Por que é que me vem incomodar a esta hora da manhã?”

“Pensei que gostaria de saber que ganhou o Prémio Nobel.”

“Sim, mas estou a dormir. Seria melhor ter-me telefonado de manhã”, e desliguei.

A minha mulher perguntou: “O que era?”.

“Disseram-me que ganhei o Prémio Nobel.”

“Oh, Richard. Quem era?” Costumo pregar-lhe umas partidas, mas ela é tão esperta que nunca se deixa enganar; contudo, daquela vez apanhei-a.

O telefone voltou a tocar: “Professor Feynman, ouviu...”.

(Com voz desapontada.) “Sim.”

Então comecei a pensar: “Como é que eu vou acabar com isto?”. Por isso, a primeira coisa que fiz foi desligar o telefone, porque as chamadas vinham umas a seguir às outras. Tentei voltar a adormecer, mas não consegui.

Fui até ao escritório para pensar. “O que vou fazer? Talvez não aceite o Prémio. Nesse caso o que aconteceria? Talvez não seja possível.”

Volto a pôr o auscultador no gancho e o telefone toca imediatamente. É um tipo da revista Time. Disse-lhe: “Ouça, tenho um problema, por isso não quero que isto seja publicado. Não sei como sair disto. Há algum meio de não aceitar o Prémio?”.

Ele disse: “Receio que não haja nenhum meio de o fazer sem causar ainda mais confusão do que deixando as coisas como estão”. Era evidente. Tivemos uma grande conversa, durante quinze ou vinte minutos, e o tipo da Time nunca publicou nada sobre ela.

Agradeci ao tipo da Time e desliguei. O telefone tocou imediatamente. Era do jornal.

“Sim, pode vir cá a casa. Sim, está bem. Sim, sim, sim...”

Um dos telefonemas foi de um indivíduo do consulado sueco. Ia dar uma recepção em Los Angeles.

Achei que, já que ia aceitar o Prémio, tinha de me sujeitar àquilo tudo.

O cônsul disse: “Faça uma lista das pessoas que gostaria de convidar e nós faremos uma lista das pessoas que vamos convidar. Depois vou ao seu gabinete para compararmos as listas e vermos se há alguma repetição, e fazemos depois os convites...”.

Por isso fiz a minha lista. Tinha umas oito pessoas: o meu vizinho da frente; o meu amigo Zorthian, o artista; etc.

O cônsul veio ao meu gabinete com a sua lista: o governador do estado da Califórnia; Fulano; Beltrano; Getty, o do petróleo; algumas actrizes — eram trezentas pessoas! E, escusado dizer, não havia nem uma única repetição."

Richard Feynman, Está a brincar, Sr. Feynman!, Lisboa, Gradiva, 1988, p. 287-288.

(Richard Feynman ganhou o Nobel de Física em 1965, juntamente com o americano Julian Schwinger e o japonês Shin'ichiro Tomonaga - este dois últimos também, imagino, muito doidos.)