31 de janeiro de 2016
31 de agosto de 2015
17 de junho de 2015
"Rio em Prosa"
"Rio em Prosa"
17 de junho de 2015, Colégio Pedro II, Rio de Janeiro.
Debate com a comunidade do Colégio Pedro II sobre o texto literário em sua relação com a cidade do Rio.
17 de junho de 2015, Colégio Pedro II, Rio de Janeiro.
Debate com a comunidade do Colégio Pedro II sobre o texto literário em sua relação com a cidade do Rio.
10 de junho de 2015
5 de junho de 2015
"Do gato Ulisses as sete histórias"
"Do gato Ulisses as sete histórias", Prosa e Verso, Lançamentos, O Globo, Rio de Janeiro, 6 de junho de 2015.
1 de novembro de 2014
“Gato vai, gato vem”
16. “Gato vai, gato vem”, Revista Lilica and Tigor,
São Paulo, nov. 2014 (data aproximada).
— Mas eu nunca tive
um gato!
Não deu nem tempo de
resmungar; a minha amiga portuguesa já me entregava um bichinho que ela jurava
ser um gato, mas que para mim era um rato: não possuía pelos e quase cabia na
minha mão de tão pequenino. Um gato... Eu já tive na vida uma galinha (a
Chimbica), uma tartaruga (a Mafalda) e uma cadela (a Pinga), mas um gato, não.
— E o nome dele é
Jeremias! — anunciou a gaja, virando as costas e dando no pé.
Esta foi a pior
parte do nosso encontro, porque a perspectiva que mais me atraía em toda essa
história de ter um gato era dar ao bicho um nome, porque eu adoro dar nomes às
coisas, digo, aos bichos. E jamais batizaria de “Jeremias” um gato pra chamar
de meu. Na primeira oportunidade, renomeio o gato, pensei, animado. Será
“Ulisses”! Ulisses, o guerreiro! Ulisses, o navegador! Quem sabe até Ulisses,
parceiro de uma futura gatinha chamada Penélope! Show! Comecei a gostar... Mas
em menos de duas horas já estava a minha pequena Clara no chão, a conversar com
o Jeremias. O papo era linguístico:
— Tu mias, Jeremias?
— Miau...
— Tu mias, Jeremias?
— Miau, miau...
— Pai, já viste isto?
O Jeremias percebe tudo! E isto tem a ver com o nome dele! Tão querido...
Apenas eu em Lisboa passei
a chamar o Jeremias de Ulisses, e em pouco tempo o “guerreiro” destruiu meu
sofá, derrubou e quebrou meus porta-retratos, arranhou as lombadas dos meus
livros, comeu minhas plantas e espatifou minha escultura do Fernando Pessoa.
Quando minha namorada brasileira veio me visitar e recebeu um olhar terno e um
ronrom, apaixonou-se pela criatura, já então robusta e peluda. Prometi-lhe que
na minha próxima viagem ao Rio de Janeiro levaria o bichano na mala de mão.
Vacinei-o, tirei um passaporte para o terrorista disfarçado de “grande
navegador”, metemo-nos num avião nós dois, cruzamos o Atlântico, e pronto: o
presente foi entregue. Ulisses ficou radiante porque caiu numa casa com mais
dois gatos, e eu bem sei que gato não gosta de morar sozinho, mas com outros
gatos, todos se limpando e caçando juntos. Com a sensação de que fiz a coisa
certa, voltei para Lisboa feliz, para uma casa sem gato, mas com plantas,
livros e pequenos objetos sobre as prateleiras. Um paraíso de estabilidade...
Mal sabia eu que, um
ano depois, eu iria acabar deixando Lisboa... Uma vez no Rio, quando vou jantar
na casa da namorada, ou ver lá um filme, ou tomar um vinho; toda vez, enfim,
que toco a campainha, quem é que aparece se esfregando nas minhas canelas e mal
se contendo de felicidade gatífera?
Eu não deveria ter
mexido no nome dele...
— Tu mias, Jeremias?
1 de setembro de 2014
“Como fazer para não pensar”
15. “Como fazer para não pensar”, Revista Lilica and Tigor, São Paulo, set. 2014 (data aproximada).
Os filhos e as filhas de
nossos namorados e namoradas são como se fossem nossos, e não são; e também não
são, mas é como se fossem. E nunca que daremos jeito nesse vai-e-vem pedagógico:
tentamos fazer com que aprendam conosco mas eles não aprendem, e acabamos, aos
trancos e barrancos, aprendendo nós. Aprendendo o quê? Ah, muitas coisas. Uma
delas é não tentar fazer com que eles aprendam o que quer que seja conosco.
Nunca imaginei que o pacote
seria do tamanho que é. Comecei a namorar, e éramos apenas nós dois, mas o
namoro foi melhorando, e a intimidade, crescendo, e Nossa Senhora do Quotidiano
fez o dia-a-dia mudar (essa senhora, se não é santa, deveria ser, de tão
poderosa que é...). Os filhos dela começaram a gostar de mim, e eu deles, e eles
a se sentir à vontade perto de mim, e eu deles. E as minhas duas miúdas
portuguesas também, mas estas moram em Lisboa, e minha namorada, em relação às duas,
não é testada pela tal Nossa Senhora do Quotidiano. Eu sou. E vou aprendendo. O
quê? Ah, muitas coisas...
Com a minha enteadazinha,
vamos chamá-la assim, aprendo mais filosofia do que quando tentava aprender
sentado e de lápis à mão. Com ela aprendo aos trancos e barrancos o que podemos
denominar de corrente pragmático-esportista. Seu objetivo? Ser feliz. Seu
método? A correta utilização do zero: zero
problema e pensamento zero.
No meio de um jantar ela anuncia,
meio que gritando: “Estou tão feliz! Atualmente eu tenho zero problema!”. Diante da pergunta da mãe, minha namorada, interessadíssima
no tema do zero problema e
confrontada em seu dia-a-dia (valei-nos, Nossa Senhora do Quotidiano!) com
tantos deles, a pequena diz, na lata (é assim que se expressam os filósofos
pragmático-esportistas): “Como é que a gente faz pra ter zero problema? É só resolver todos. Resolve um, depois outro,
depois outro, e assim vai...”. E comenta minha namorada, tentando entender (e
eu, já de lápis à mão, pra ver se aprendo): “Mas meus problemas nunca acabam...”.
E nossa filósofa, com a impaciência típica dos pragmático-esportistas que estão
há mais de cinco minutos sentados: “É que nem jogo de futebol, mãe! Não pode
sair todo mundo da defesa de uma vez; nem atacar com todos os jogadores de uma
vez. Ah! E não pode perder a bola!”. E disse a mãe da menina: “Mas eu sempre
perco a bola...”.
Diante de nosso desânimo a
garotinha se levanta da mesa, pega sua bola e diz: “Vocês não pegaram... Vou
dar um exemplo: quando jogo futebol, não penso. Por quê? Porque fico muito
concentrada e não ligo pra mais nada”. Esse assunto me interessa, pensei. É o
aprofundamento do conceito do pensamento
zero. E pedi a ela que continuasse. E ela, já impaciente com a minha
lentidão: “Quando fico concentrada, fazendo coisas de agilidade, meu corpo toma
o controle de tudo. Não ligo pra mais nada”. E eu, anotando furiosamente cada palavra,
pedi a ela que seguisse adiante, desenvolvesse... E ela seguiu: “Quando você
não ‘tá fazendo nada, você pensa o tempo todo. E até pensa que ‘tá pensando!
Você não consegue não pensar. E não pensar é muito bom!”. E eu lhe disse:
“Valeu! Preciso pensar mais sobre isso”. E ela, com pena de mim, me olhou
longamente: “Juva, você não entendeu nada...”.
E foi jogar bola.
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