1985-02-17
HELENA, Lúcia, “Viva o povo brasileiro — a questão do nacional e do popular”, O Estado de S. Paulo, São Paulo, 17 fev. 1985.
LH: “... mitos socialmente engendrados como (...) forma de obscurecer uma contingência cultural hostil: o escritor sempre visto como um missionário, o brasileiro como modelo do homem cordial, o Brasil como o país do carnaval, a América do Sul como o paraíso do sol/sul/sal, a formação social híbrida apresentada como um todo coeso e harmônico”.
LH: “Em Macunaíma, (...) o que se enfatiza é a fragmentação, a ruptura com a representação da totalidade, a unidade dispersa jamais totalizante, na qual a caoticidade é um valor positivo, indicador e estruturador de um sentido plural, e sempre mais rico, da nacionalidade não mais captada de modo estático e pretensamente coeso”.
LH: “O próprio Mário (...) afirma não querer que tomem seus personagens como símbolos. Eles são, na verdade, alegorias de uma pergunta incômoda e delicada: o que caracteriza nossa cultura e povo? Somos uma ‘identidade cultural’? E, se somos, o que significa isso; uniformidade?”.
LH: “A opção de João Ubaldo é um achado pessoal, mas é também a retomada (...) de um veio marioandradino (e observe-se que não falo de influência): aquele veio que permite a ambos apresentar a divisão entre a colônia e o não colonial, entre o mítico e o real, entre o literário e o social, entre o ‘meu’ discurso e o do outro, entre a história ‘oficial’ e suas contraversões como algo que necessita ser focalizado a partir de uma perspectiva de desmascaramento paródico e do resgate alegórico de vozes culturais silenciadas”.
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