Bom. Não posso me queixar de nada. Meu lançamento foi óptimo. A Leonor Xavier e o José Carlos de Vasconcelos, em suas apresentações bem humoradas e inteligentes, me rasgaram ao meio de tantos elogios, e eu fiquei prosa (e verso), e depois eu disse algumas palavras, que aqui vão abaixo. E no dia seguinte saiu esta matéria no Jornal de Negócios aqui de Lisboa (na foto acima). Obrigado a todos os amigos que lá estiveram. Foi dos dias mais importantes para mim desde que por estas incríveis bandas aterrissei.
"Meu nome é Juvenal Batella de Oliveira. Tive de me dividir em dois esta noite, porque a emoção é grande demais para uma só pessoa. Nós dois, eu e o sr. Juva Batella, já fizemos outros lançamentos de livros juntos, mas este aqui é especial porque é o primeiro em aqui em Portugal. A rima foi involuntária. Peço desculpas. Não sou poeta. Sou um académico. Um doutor em Literatura. Escrevo teses. Não sou artista. O artista é o sr. Juva Batella. O mais que faço é estudar literatura, e tenho sido, dentro do possível, um observador quase atento a tudo o que o sr. Batella tem escrito ao longo dos anos.
Falo, então, apenas eu, o Juvenal de Oliveira, até porque o sr. Batella, o artista, está hoje especialmente tímido. Humores dos artistas, que são criaturas assim, instáveis por natureza. Falo eu, também, porque não sou propriamente o autor do livro e tenho, portanto, um olhar mais distanciado.
Mas quero antes de tudo agradecer, em nome do sr. Batella, a todos vocês por estarem aqui hoje. É graças a todos vocês que estamos aqui hoje. É claro que, se o sr. Batella não tivesse escrito um livro, ninguém estaria aqui hoje. Mas, por outro lado, se vocês não estivessem aqui hoje, com o sr. Batella tendo escrito o livro, só estaríamos aqui hoje eu e o sr. Batella, e este último com uma cara não muito boa. E isso não teria a mínima graça.
Quero também agradecer ao José Carlos de Vasconcelos e à Leonor Xavier, que são muito amigos do sr. Batella e estão a acompanhar o trabalho do sr. Batella há muito tempo, por tudo o que disseram aqui. E desde que nós dois, eu e o sr. Batella, viemos morar cá em Portugal, o José Carlos e a Leonor têm estado ambos muito presentes e têm ajudado muito, principalmente ao sr. Batella, que é escritor e, como todo escritor que se preze, precisa muito da ajuda dos amigos.
E, para não me alongar mais, porque nós, os académicos, temos a tendência a um certo alongamento verbal, devo lhes dizer que já li alguns dos livros que o sr. Juva Batella escreveu, mas não li todos, porque tenho mais o que fazer, porque sou um académico e gosto de me debruçar sobre a chamada literatura consagrada, e não sobre a literatura assim mais de vanguarda. Mas este livro, O verso da língua, eu li, até porque foi o primeiro que o sr. Batella escreveu. Li e gosto bastante dele, embora ele seja, para os meus gostos, um bocadinho experimental demais. Não é à toa que está nessa colecção da ed. Presença, chamada LADO B… Há no livro muitas pequenas metalinguagens e, a atravessar toda a história, uma grande metalinguagem. O sr. Batella apropria-se do signo gráfico e ortográfico, e ainda das categorias gramaticais e sintácticas, e os utiliza a todos como personagens. E todos se transformam em sujeitos da escrita e, em intenso diálogo dentro da narrativa, passam a agir segundo a função referencial que exercem no universo da gramática. O sr. Batella faz do código linguístico a sua matéria-prima.
Eu disse a ele, na época em que ele estava lá, debruçado sobre a máquina de escrever Remington que foi do tio dele, que outros escritores já tinham feito coisa semelhante: Umberto Eco, nO nome da Rosa, em 1983; Lawrence Sterne, no Tristram Shandy, em 1760; e ainda alguns franceses. E me lembro que ele me dizia assim, nós estávamos no quarto, ele de cuecas, e ele, sem nem mesmo se dar ao trabalho de levantar os olhos da máquina onde martelava aquelas maluquices com ferocidade: “Eles fizeram, mas não com esta radicalidade…”. Eu na época ri de tamanha ingenuidade académico-literário-linguístico-semântico-simbólica. Pudera, o sr. Batella tinha 24 anos… Mas hoje devo admitir, e aproveito que estamos todos aqui para o fazer publicamente, que ele tinha razão.
E, mesmo que eu não aprecie muito as chamadas experiências literárias radicais, e nem ainda todas aquelas experiências literárias que se auto-proclamam radicais e inéditas, devo admitir que O verso da língua é, sim, um livro bastante interessante e que merece ser lido, mas apenas uma vez, é claro, porque, como disse o meu personal trainer, a vida é curta, a morte é iminente, e, se ler já é difícil, reler é quase impossível, sem falar que há muitas coisas boas para se ler neste mundo para o sujeito se dar ao luxo de reler o que quer que seja…
Obrigado a todos."
Lisboa, 29 de Outubro de 2009
amo os dois e espero vê-los em dezembro nas bandas cariocas.
ResponderExcluirbeijos afundados em saudade. parabéns, parabéns, da amiga toda orgulhosa, bb.
Algo aqui me dá a impressão de que este livro será lido e saboreado por um montão de portugueses. :-D
ResponderExcluirÓtima entrevista.
Querido irmão,
ResponderExcluirEstou gratamente surpreso, pois sequer sabia deste lançamento. De certo os preparativos para tão significativo acontecimento, explicam e justificam amplamente o silêncio com o qual temos sido castigados...
De qualquer modo, fica o meu beijo, orgulhoso e sincero...e a certeza de que muitas e importantes portas hão de se abrir para o teu maravilhoso talento.
Vooê merece.
Ro
juvex.. confesso que o irmão do sr. batella ficou um pouco tonto com essa leitura em grupo mas me disse ele que se divertiu muito!
ResponderExcluirbj, meu e do irmão do sr. batella