"A memória joga um jogo obscuro com o seu próprio conteúdo, do qual qualquer tratado de psicologia fornece provas exemplares. (…) … a memória se assemelha à aranha esquizofrénica dos laboratórios onde são testados alucinógenos, que tece teias aberrantes com furos, cerzidos e remendos. A memória nos tece e nos captura ao mesmo tempo segundo um esquema do qual não participamos lucidamente; não se deveria falar de nossa memória, porque se alguma coisa ela tem é que não é nossa; trabalha por conta própria, nos ajuda enganando-nos, ou quem sabe nos engana para ajudar-nos (…)."
Julio Cortázar, A volta ao dia em 80 mundos, trad. Ari Roitman e Paulina Wacht, Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008, p. 97-100.
Nenhum comentário:
Postar um comentário