"Falaram-me
várias vezes do homem que, numa casa do bairro de Flores, esconde a réplica de
uma cidade em que trabalha há vários anos. Construiu-a com materiais
insignificantes e numa escala tão reduzida que podemos vê-la de uma só vez,
próxima e múltipla e como que distante na suave claridade da alba.
“A cidade
está sempre longe e essa sensação de distância tão próxima é inesquecível.
Vêem-se os edifícios e as praças e as avenidas e vê-se o subúrbio que se esbate
para oeste até se perder no campo.
“Não é um
mapa, nem uma maqueta, é uma máquina sinóptica; a cidade está toda ali,
concentrada em si mesma, reduzida à sua essência. A cidade é Buenos Aires, mas
modificada e alterada pela loucura e a visão microscópica do construtor.
“O homem diz
chamar-se Russell e é fotógrafo, ou ganha a vida como fotógrafo, e tem o seu
laboratório na calle Bacacay e passa
meses sem sair de casa a reconstruir periodicamente os bairros do sul que as
cheias do rio arrasam e enterram cada vez que chega o Outono.
“Russell
acredita que a cidade real depende da sua réplica e por isso está louco.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário