Budapeste — A Associação Internacional de Calendariologia Avançada anunciou nesta
segunda-feira a decisão de seu Comité
Especial para o Regime da Sucessão das Feiras e dos Dias que a próxima
terça-feira, a partir da meia-noite de segunda-feira, deixará de existir. “As
pessoas não devem ficar abaladas com este novo momento, único, na
calendariologia mundial”, disse o director estratégico, Joseph Nap Naptár. “A
terça-feira ("Kedd", em húngaro), a partir da semana que vem, não
mais existe, do mesmo modo como não existe o dia 31 de Fevereiro, e nem por
isso as pessoas sentem falta do dia 31 de Fevereiro”.
O nosso enviado especial a Budapeste, José Paiva de Albuquerque e Aguiar de
Alcântara Alves Antunes Avelar de Azevedo comenta que há muito tumulto e
indignação às portas da AICA. “As pessoas não sabem o que fazer”, diz José
Paiva de Albuquerque e Aguiar de Alcântara Alves Antunes Avelar de Azevedo, “e
prevê-se grande caos no sistema financeiro internacional”. Joseph Nap Naptár, o
director estratégico da Associação, está no momento dedicado a tentar apaziguar
os ânimos e a convencer a opinião pública internacional de que não há motivo
algum para dramas.
“Não há motivo algum para dramas”, diz ele, que ainda explica como vem transcorrendo
o longo processo de tomada de decisão. “Estamos ainda na dúvida sobre se,
dentro da logística calendariológica, a decisão irá (1) manter o dia de
terça-feira, e este continuaria então a figurar e a permanecer no seu exacto
lugar, desenvolvendo-se, no entanto, sem qualquer actividade humana de nenhuma
espécie em todo o planeta, ou se iremos (2) simplesmente suprimir este
desnecessário dia, sucedendo então a quarta-feira logo a seguir à segunda-feira,
ficando a semana, deste modo, com apenas seis dias.”
A decisão, segundo fontes estratégicas, tende para a opção número 1. “E,
neste caso”, perguntou-lhe o nosso enviado especial, José Paiva de Albuquerque
e Aguiar de Alcântara Alves Antunes Avelar de Azevedo, “como seguiria a vida
dos seres humanos numa terça-feira que existe mas não existe?”
— Muito simples — respondeu Joseph Nap Naptár, director estratégico da
Associação Internacional de Calendariologia Avançada. — O dia de terça-feira,
por ser um dia estranho e mal feito, e cita o historiador Leofrane Holforo-Strevens
(que é também sócio-fundador da AICA), no seu livro Pequena história do tempo, “... o dia de Marte, mesmo sob o seu
nome cristão — 'terceiro' — é um dia de azar para os gregos e não apenas devido
ao facto de a queda de Constantinopla ter acontecido numa terça-feira. Os ocidentais,
esquecendo-se da benevolência de Vénus, transferiram o dia de azar para a sexta-feira,
o dia da Crucificação”. Por ser um dia mesmo estranho — continua Joseph Nap
Naptár —, a terça-feira deverá ser mantida em repouso, e em repouso todas as
pessoas do planeta deverão permanecer.
— Mas a fazer, então, o quê? — pergunta o nosso enviado especial, José
Paiva de Albuquerque e Aguiar de Alcântara Alves Antunes Avelar de Azevedo.
— Nada — diz Joseph Nap Naptár, e sorri. — No caso de termos de manter o
dia no exacto lugar, permanecendo a semana com sete dias, o que se deve fazer
num dia de terça-feira ("Kedd", em húngaro) é nada. As pessoas não
devem fazer comida, devendo comer o suficiente no dia anterior, não devem fazer
contas, tomar notas ou desenhar, não devem falar umas com as outras, não devem
sair de casa nem entrar em veículos de transporte, não devem trabalhar, não
devem comprar pão nem redigir cartas, tampouco conversar e trocar ideias com
amigos, vizinhos ou familiares, não devem escrever nem ler, muito menos pensar,
não devem lembrar-se de nada, planejar nada, traduzir nada, querer nem desejar
nada, não devem amar, beijar ou fazer sexo, não devem revisar textos nem exercitar-se
e também não devem dormir, não tocar bateria, não devem arrumar a casa, lavar
loiças ou roupas, não devem tirar férias nem trocar fraldas, não devem comer
flocos nem arrumar ficheiros, não podem aproximar-se de computadores,
telefones, telemóveis e demais aparelhos electrónicos, não podem pedir socorro
nem se matar, o ideal era que ninguém nascesse ou morresse, e disso já estamos
a tratar, não devem rir nem fumar nem chorar e muito menos se emocionar, não
devem zangar-se, tomar decisões sérias, intimidar-se nem se envergonhar.
— O que se deve fazer então? — perguntou, atónito e boquiaberto, o nosso
enviado especial, José Paiva de Albuquerque e Aguiar de Alcântara Alves Antunes
Avelar de Azevedo.
O director estratégico da AICA, Joseph Nap Naptár, respondeu que a
Associação está a estudar a hipótese de as pessoas de todo o mundo, neste dia
de terça-feira — "Kedd", em húngaro —, fazerem Yoga: em casa e
sozinhas. “Mas isso irá depender do tipo de Yoga a ser praticado”, assevera,
garantindo, com um sorriso confiante, que a decisão, seja na opção 1 (manter a
terça-feira, esvaziando-a integralmente) ou na opção 2 (eliminar a terça-feira
da face da Terra), é a melhor e a mais sábia decisão já tomada desde que o
homem inventou o tempo.
Resta-nos torcer para que a Associação Internacional de Calendariologia
Avançada (AICA) decida pela segunda opção, suprimindo, absoluta e
irreversivelmente, ou seja, para todo o sempre ("mindörökké", em
húngaro), a terça-feira — “dia em que as horas se arrastam”, segundo a língua
do povo Yahoo, que se deitava na
segunda à noite e só acordava na quarta-feira pela manhã.
Voto na hipótese 2!
ResponderExcluirEspero que a Associação Internacional de Calendariologia Avançada não sofra represálias de lobbies "tercistas" e se mantenha firma na sua decisão. A economia há-de recuperar, o mais importante são as pessoas.
: )
ResponderExcluirAo que tudo indica, a AICA vai decidir pela hipótese 2. Caso isso não aconteça, já sei onde vamos fazer Yoga: numa Academia em Budapeste, com um tal professor Nap.