22 de junho de 2011

Amarrando cordinhas…

Fala o escritor:

“Tomemos a palavra “thunder” [trovão] e olhemos em retrospecto para o deus Thunor, o equivalente saxão do Thor nórdico. A palavra tunor exprimia o trovão e o deus; mas tivéssemos perguntado aos homens que chegaram à Inglaterra com Hengist se a palavra exprimia o estrondo no céu ou o deus colérico, não acho que seriam argutos o suficiente para compreender a diferença. Imagino que a palavra carregava ambos os sentidos sem se comprometer muito a fundo com nenhum deles. Imagino que, quando proferiam ou escutavam a palavra “thunder”, ao mesmo tempo ouviam o grave estrondo no céu e viam o raio e pensavam no deus. As palavras eram envoltas em mágica; não tinham um significado estanque”.

Jorge Luis Borges, “Pensamento e poesia”, in Esse ofício do verso, org. Calin-Andrei Mihailescu, trad. José Marcos Macedo, São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 85.

Fala o filósofo:

“Tudo a que chamamos mito é (…) algo condicionado e mediado pela atividade da linguagem; é na verdade o resultado de uma deficiência linguística originária, de uma debilidade inerente à linguagem. Toda designação linguística é essencialmente ambígua e, nesta ambiguidade, nesta paronímia das palavras, está a fonte primeva de todos os mitos”.

Ernst Cassirer, “A linguagem e o mito: sua posição na cultura humana”, in Linguagem e mito, trad. J. Guinsburg e Mirian Schnaiderman, São Paulo, Perspectiva, 2000, p. 18.

2 comentários:

  1. «Imagino que, quando proferiam ou escutavam a palavra “thunder”, ao mesmo tempo ouviam o grave estrondo no céu e viam o raio e pensavam no deus». Quando não conceptualizar era lugar de magia.

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