21 de maio de 2011

Eu línguo, tu línguas, ele língua

Língua:

Devemos ser gratos ao portugueses. Se não fossem eles estaríamos até hoje falando tupi-guarani, uma língua que não entendemos.

O ‘Pois sim’ e o ‘Pois não’ deveriam ser estudados em profundidade pelos nossos políticos devido à louvável peculiaridade de significarem exatamente o contrário do que dizem. Ou não.

O homem é o único animal que possui o génio da palavra. Quanto a nós, brasileiros, também nisso perdemos o bonde. Não falamos nem a língua de Dante, nem a de Goethe, nem a de Shakespeare. E cada vez falamos pior a de Camões.

Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas de proibir o povo de falar errado.

Só existe uma língua, a falada.

Estão usando a língua como sempre. Mas cada vez usam menos o idioma.

Eu falo italiano melhor do que escrevo inglês. Leio francês melhor do que entendo alemão. Traduzo espanhol melhor do que falo inglês. Escrevo português melhor do que leio italiano. O que, tudo junto, dá a medida de minha ignorância.

Que língua, a nossa! A palavra oxítona é proparoxítona.

O que os olhos não vêem a língua inventa.”

Millôr Fernandes, “Língua”, in Millôr Definitivo: a Bíblia do Caos, São Paulo, LPM, 1994, p. 284-285.

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